segunda-feira, 31 de maio de 2010

Navegar é preciso

A informática como instrumento pedagógico – Escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro
Programa Navegar é preciso
O PROGRAMA “NAVEGAR É PRECISO” E A IDÉIA DE USAR A INFORMÁTICA NA ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS
No início, era apenas a intenção. Uma boa intenção, sem dúvida. Cercada de um conjunto de indagações, sem respostas rápidas ou fáceis. Instigava a equipe da Fundação o desafio educacional e humano de levar a informática como instrumento pedagógico para as escolas de onde vinham as crianças atendidas nos Centros de Juventude e nas creches. Mas não se sabia como fazer, onde fazer e, principalmente, o quê exatamente fazer. Sabia-se
apenas que, qualquer que fosse o modo escolhido para implantar uma proposta, seria necessário adotar um ponto de partida e ir se adaptando progressivamente às circunstâncias até então desconhecidas do contexto das escolas públicas.
No programa "navegar é preciso", a competência de cada um é valorizada, seja ele diretor, professor, coordenador, instrutor, monitor. A contribuição advinda de todos possibilita alcançar o objetivo de tornar a informática um instrumento na promoção da aprendizagem e do ensino, tanto do aluno, como do professor. Desta forma, os envolvidos mobilizaram coração e intelecto para transformar uma realidade, e com ela saíram transformados, gerando um enriquecimento mútuo.
A educação não é cultivada num sentido único. Ou estamos com ela e nos transmudamos junto, ou nos tornamos presenças ausentes.
Quais seriam os resultados práticos efetivos na alfabetização de crianças?
Que investimento seria necessário para a implantação de um projeto de inclusão digital em escolas públicas?
Que estrutura seria necessária para viabilizar a proposta?
Como não havia respostas prontas a copiar, o melhor a fazer seria mesmo construí-las, na prática, ajustando idéias, convicções e sonhos ao molde realista do que apenas poderia ser vivenciado na ação.
O projeto ganhou, desta forma, uma versão piloto. Desde cedo, ficou estabelecido que, antes de receber o seu formato final, ele seria implantado, em caráter experimental, em algumas escolas públicas escolhidas a partir de critérios específicos. Na maioria das escolas de ensino médio visitadas, os laboratórios encontravam-se fechados, com computadores sem uso e os softwares educacionais muitas vezes ainda intocados, em suas embalagens originais.
Nas entrevistas com coordenadores pedagógicos, não foi difícil diagnosticar, por exemplo, algumas razões de natureza comportamental para o baixíssimo uso educacional dos laboratórios. Na verdade, os educadores de sala de aula resistem à novidade e não levam seus alunos à sala de informática por falta de conhecimento técnico sobre o computador
e/ou por se sentirem inseguros diante da nova tecnologia. Este dado confirmou as impressões iniciais da equipe técnica da Fundação sobre o papel fundamental que deveria ter a capacitação.
E ainda apresentou as provas de que o desenvolvimento dos educadores não poderia restringir-se ao mero domínio instrumental da máquina, devendo incorporar questões culturais mais amplas relacionadas ao modo como o educador utiliza pedagogicamente o computador a serviço de uma aula mais dinâmica, mais interessante e envolvente para o aluno.
Dois outros problemas críticos chamaram a atenção durante as visitas, até porque, se não devidamente solucionados, poderiam representar, mais adiante, eventuais resistências ao projeto-piloto. O primeiro foi o da manutenção dos equipamentos. Embora a Secretaria de Educação conte com equipes especializadas para o reparo dos computadores e impressoras, o
atendimento costuma ser demorado. E esta lentidão leva alguns diretores a cerrarem as portas dos laboratórios, impedindo o acesso de alunos, independentemente de ser um problema pequeno e localizado em uma ou outra máquina. Cuidadosos em relação ao patrimônio, muitas vezes excessivamente zelosos, eles acabam transformando as salas em espaços blindados e indevassáveis.
O uso da informática aplicada à educação pressupõe uma mudança comportamental importante entre os educadores. Exige uma revisão profunda no modo de educar. E mais do que isso: a adoção de um novo compromisso profissional não mais focado na disciplina a ser lecionada mas na observação das necessidades do aluno.
Um professor sintonizado com o aluno sabe que precisa criar, com o auxílio
do computador, situações que despertem permanentemente a sua curiosidade, o envolvam e o estimulem na produção de trabalhos em grupo. Para um professor ainda muito preso aos conteúdos de uma matéria, o computador tem pouca serventia. Representa um mero elemento de decoração futurista. Suas aulas provavelmente continuarão a ser monótonas e pouco marcantes para o aluno mesmoque o micro esteja plugado na tomada, em um canto qualquer da sala.
A nova tecnologia - vale ressaltar - não se justifica em si mesma. Nem está
acima da educação. Na mão de um educador atento às necessidades e expectativas do aluno, ela é uma ferramenta útil para desenvolver a criatividade e autonomia do educando. A informática constitui um campo profícuo para o desenvolvimento de novas possibilidades de aprender, pensar e crescer tanto sob o ponto de vista cognitivo quanto emocional. Entre as vantagens que apresenta, está a de conduzir o raciocínio por meio de informações, respeitando o ritmo e as características individuais de cada aluno. Instrumento educacional versátil, o computador estabelece atalhos que facilitam a transição do pensamento infantil para o adulto, ou
seja, do pensamento concreto para o abstrato. Um aprendiz que sabe planejar suas ações certamente assumirá uma atitude mais pró-ativa no processo pedagógico. Para ele, o novo conhecimento não é fortuito, muito menos errático. É uma experiência rica transformada em fonte de poder na medida em que se deixa gravar nas mais profundas estruturas cognitivas do
aluno, influenciando outras futuras situações de aprendizagem.
A despeito de seu enorme potencial, no entanto, a tecnologia informática exige solo fértil para gerar os seus melhores frutos. Sua melhor aplicação pedagógica requer escolas abertas e educadores flexíveis, capazes de rever concepções de aprendizagem e de aceitar novas estratégias de abordagem como uma contribuição e não um risco ao relacionamento com os alunos. O computador jamais deve ser visto como um fim em si mesmo. Mas um meio para fortalecer os vínculos da comunidade escolar. Incorporá-lo à proposta educacional, na plenitude de suas aplicações, exigirá de gestores e professores um esforço cooperativo de análise e síntese de novos conhecimentos e a capacidade de aperfeiçoar e reinventar permanentemente os seus processos de produção.